quinta-feira, 25 de março de 2010

COMPADRES E COMADRES

 Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.

Ninguém avisava nada, o costume era chegar de paraquedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.

"Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre."

E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos.

Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.

"Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!"

A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.

Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha geralmente uma das filhas e dizia:

"Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa."

Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.

Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também. Pra que televisão? Pra que rua? Prá que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam... Era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenavam. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa... A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:

"Vamos marcar uma saída!..." Ninguém quer entrar mais.

Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.

Casas trancadas... Prá que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite...

Que saudade do Compadre e da Comadre!

 

Texto de José Antônio Oliveira de Resende/Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João del-Rei.


terça-feira, 23 de março de 2010

Normose

Normose

 

A palavra normose foi criada na França pelo escritor e conferencista Jean-Ives Leloup para designar, em síntese, essa forma de comportamento visto como normal mas que, na realidade, não é normal.

Transportando esse conceito para observação da sociedade atual verificamos que as pessoas se pautam por padrões estabelecidos por alguém ou um grupo, em algum momento.

Por exemplo, segundo padrões da moda atual, ser normal é ser magro e bonito.

Para isso, vale dieta e, a cada dia surge uma diferente, ditada por essa ou aquela celebridade que afirma ter conseguido o peso ideal em um tempo mínimo.

Para alcançar as medidas ideais da dita normalidade vale a frequência a academias, com rigorosos exercícios físicos, massagens e tudo o mais que possa permitir atingir o idealizado.

E depois vêm as cirurgias para modificar tudo que seja possível alterar.

Não escapam os dentes, que devem ser perfeitos e brancos e, para isso, submetem-se as pessoas a aplicações de laser, porcelana e o que mais seja necessário.

Não importa se algo faz mal à saúde. O importante é ser normal que inclui, ao demais, estar sempre na moda, vestir a roupa do momento, custe o que custar.

Gastam-se verdadeiras fortunas com cabeleireiros, maquiagem, produtos de beleza.

Porque não se pode perder festa alguma. Nem evento importante. Isso logo nos desqualificaria como um ser normal.

Naturalmente, é louvável o cuidado com o corpo, a atenção ao parecer bem, à elegância. Faz parte da evolução da criatura cultivar o belo, o bom.

Mas daí aos exageros, aos excessos vai uma distância que prima pela insensatez.

Gasta-se o que não se tem, finge-se o que não se é. Tudo para parecer normal... Como os demais.

Que padrão de normalidade, afinal, estamos elegendo? Algo totalmente físico, exterior, passageiro em detrimento de valores reais?

Será isso que desejamos para os nossos filhos, a Humanidade do amanhã?

Desejaremos uma Humanidade de pessoas esquálidas, bulímicas, estressadas e vazias de conteúdo?

Cabe-nos pensar um pouco, antes que nossos filhos, por não atenderem aos padrões ditados por alguns se lancem no fundo poço da depressão, perdendo as oportunidades de progresso nesta vida.

Estamos na Terra para angariar sabedoria, ilustrar a mente, dulcificar o coração, ascender à perfeição.

A mente se ilustra com estudo, reflexão, esforço. O coração se dulcifica no exercício do bem ao próximo, entendendo que as diferenças existem para permitir realce à verdadeira beleza.

Invistamos nisso. E, em vez de nos esgotarmos em horas e mais horas de trabalho para conseguir mais dinheiro para atender a necessidades tolas, reservemos tempo para conviver com a família, com os amigos.

Reservemos tempo para leituras, alimentando as ideias; para a reflexão, a fim de nos enriquecermos interiormente.

Tempo para olhar o nascer do sol e seu desaparecer no poente, para ouvir a sinfonia da chuva em dias quentes, o agradecimento da terra pela água que sorve, com sofreguidão.

Tempo para amar, para viver, para ser um humano de valor, para ser feliz.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita

Em 18.03.2010.


domingo, 7 de março de 2010

Just a Line!

SDST!!!

Stop Drinking, Start Thinking !

Cheers,